O exercício adequado pode ser um tratamento recomendável para quase todas as condições ortopédicas. Por outro lado, o exercício malfeito pode piorar qualquer condição, observa o educador físico.
A lista de problemas que podem ser adquiridos ou ampliados ao se exercitar de forma inadequada é longa: tendinite, lesões musculares, fraturas por estresse, rupturas de tendão, dores variadas, piora de condições ortopédicas, desgastes e degenerações da coluna, hérnia de disco.
— Se o exercício for feito com carga inadequada, vai gerar lesões porque a musculatura ainda não está preparada para á-la. Se for feito em uma posição incorreta, pode ocorrer ou amplificar desvios posturais e facilitar a ocorrência de lesões mais graves. Se a pessoa já tem algum problema prévio, um desvio postural, uma tendência a tendinite ou tem algum grupo muscular muito enfraquecido porque fica muito tempo parado em uma posição no trabalho, pode ampliar o problema ao fazer um exercício — afirma o educador físico.
Não existe uma fórmula específica para todo mundo. Cada indivíduo terá a sua periodização específica porque cada pessoa tem um nível de capacidade de ar o exercício
JERRI LUIZ RIBEIRO
Educador físico e professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da UFRGS
Em 2023, um caso raro e extremo chamou atenção do Brasil. A influenciadora Kamila Rigobeli ou uma semana na UTI após ir pela primeira vez a uma aula de spinning que foi intensa.
Lá, a brasileira lesionou um músculo da coxa e acabou tendo rabdomiólise, doença grave que se caracteriza pela ruptura de fibras musculares, provocando uma liberação de toxinas para os rins, o que pode acarretar uma insuficiência renal aguda. Embora a ocorrência desse quadro seja rara e dependa de uma série de fatores, como preparo físico e calor, fica o alerta para se ter cautela ao praticar exercícios intensos e diferentes do seu habitual.
Segundo o ortopedista e traumatologista Eduardo Müller Ávila, há sinais de alerta de que se está ando do limite no exercício físico, como sentir que entre uma sessão e outra de exercícios não está havendo a recuperação ideal, a ponto de já chegar na academia cansado. Outro sinal de alerta é uma piora no rendimento e na força:
— Esse é um sinal importante porque o rendimento não deve piorar com a progressão do treino: deve se manter ou melhorar. A piora no rendimento significa que a pessoa não está se recuperando. É aquela dor que permanece: a pessoa faz um treino, sente uma dor e, no treino seguinte, a dor é ainda pior.
Cerca de quatro meses após as fraturas por estresse, Brenda Cardoso Gil relata que ainda sente os impactos do tempo que precisou ficar parada. Já voltou a correr, mas o fôlego não é mais o mesmo. E o contraste de ter ado de uma vida superativa para uma vida com nenhuma ou baixa movimentação durante semanas ficou como aprendizado:
— O momento em que me dei por conta de que não poderia fazer mais nada por um tempo foi horrível. Meu conselho para quem começa ou já está no esporte é procurar práticas para prevenir lesão e procurar profissionais competentes para auxiliar, porque é fácil se lesionar. E focar em uma progressão gradual, com calma. Hoje em dia, com esse boom das redes sociais de influenciadores de corrida, as pessoas se comparam muito, mas cada pessoa tem seu corpo e seu tempo.
O ortopedista e traumatologista Eduardo Müller Ávila afirma que o ideal é não chegar ao ponto de precisar parar de se exercitar, tanto para prevenir lesões como para a manutenção da saúde e do condicionamento adquiridos ao longo da vida. Por isso, explica ele, vale mais a pena tirar o pé do acelerador do que acabar se acidentando:
— Fazer as coisas mais devagar que o planejado é infinitamente melhor do que ter que parar. Estudos já mostraram que, em pacientes jovens e saudáveis, duas semanas de repouso absoluto provocam uma perda de massa muscular equivalente a 10 anos de envelhecimento, e muitas vezes eles não recuperam a massa muscular que tinham antes. Quando se é jovem, não se percebe muito essas alterações, mas no envelhecimento às vezes essas perdas são a diferença entre ter autonomia e deixar de ter.