
“Sou um filho de Santo Agostinho. Um agostiniano”. Foi com estas palavras que o religioso norte-americano Robert Francis Prevost Martínez, 69 anos, recém-eleito papa Leão XIV, se apresentou ao mundo logo após o conclave, na tarde desta quinta-feira (8). No Brasil, as sedes agostinianas estão localizadas em estados como Paraná, São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Pernambuco, além do Distrito Federal. No Rio Grande do Sul, não há base.
Em um vídeo publicado nas redes sociais (veja abaixo), o doutor em Filosofia e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Mateus Salvadori explicou que, ao declarar-se um agostiniano, Robert Prevost indicou um possível caminho para o seu papado.
— Ele entrou na Ordem dos Agostinianos em 1985, no Peru. Os Agostinianos fazem parte das ordens mendicantes, como os franciscanos e os dominicanos. E aqui cabe explicar que as ordens são comunidades de pessoas consagradas que vivem juntas e seguem uma regra de fé e serviço. Os franciscanos, por exemplo, seguem São Francisco, defendem a simplicidade, o cuidado com os pobres e a natureza. Já os agostinianos, filhos espirituais de Santo Agostinho, são marcados pela busca da verdade interior, pela vida em comunidade e pela reflexão filosófica e teológica — destacou Salvadori.
O professor destacou ainda que Santo Agostinho foi um dos pensadores mais influentes da história da Igreja. Nascido no ano de 354, ele ou da juventude rebelde à maturidade como bispo, filósofo e teólogo.
— Ele ensinava que o caminho para Deus a por dentro de nós e disse: “Volta para ti mesmo, no interior do homem habita a verdade”. E aqui entra um gesto importante. Ao escolher o nome Leão XIV, Prevost sinaliza afinidade com o Papa Leão XIII, o papa da Rerum novarum (1891), que fundou a doutrina social da igreja, ampliando o diálogo entre fé, razão e ciência — complementa.
Para Salvadori, um papa agostiniano e missionário, que traz o nome e uma alusão à justiça social e à paz, não parece detalhe, e sim um recado.
— Tudo indica que este será um pontificado de continuidade, não apenas em relação ao papa Francisco, mas com toda a tradição social cristã, cujas raízes estão no Evangelho e foram desenvolvidas ao longo dos séculos pelos Santos Padres, pela escolástica e, de modo marcante, por Leão XIII na Rerum Novarum. Ao escolher esse nome, o novo papa parece revelar seu programa pastoral: um compromisso com a justiça social, a caridade e, sobretudo, com a paz entre os povos. Penso que será um pontificado conciliador, no qual o papa vai se colocar como "construtor de pontes" para a paz, na busca de um mundo fraterno.
Origem
Presente em cerca de 42 países e com 2,6 mil religiosos, a Ordem de Santo Agostinho tem o propósito de anunciar o Evangelho pelo mundo, por meio das missões, das obras sociais e dos colégios. Foi fundada pela igreja em 1244 pelo papa Inocêncio IV, que unificou diversos grupos eremíticos que viviam segundo a Regra de Santo Agostinho, morto em 430 d.C no norte da África.
Vindos da Espanha, os primeiros frades agostinianos chegaram no Brasil em 17 de julho de 1899. Em 1931, foi fundado o Colégio Santo Agostinho, em São Paulo, enquanto em 1961 foi a vez do Colégio São José, em São José do Rio Preto. Por sua vez, o Seminário Santo Agostinho foi estabelecido em Curitiba.
Nas décadas posteriores, mais agostinianos chegaram e expandiram a ordem para outras regiões. Em 2013, a Província Agostiniana do Brasil foi criada.
Em sua página na internet, apresenta-se como "um farol de ensinamentos e serviços altruístas, enraizados nos valores que norteiam a Ordem de Santo Agostinho."