O cérebro registra os conteúdos colhidos através da nossa linguagem. Se você verbaliza que algo vai ser péssimo, a probabilidade disto acontecer aumenta exponencialmente. É fato comprovado cientificamente, embora pareça um conselho motivacional. Desconsideramos o poder da mente. Tudo começa e termina nela, vale lembrar. Tenho escasso conhecimento para explicar quais mecanismos agem sobre a vontade, mas são poderosos, determinantes. Tive diversas provas ao longo dos anos. Ao sair de casa imaginando que um evento seria ruim, não dava outra. Quando entrava em uma espiral negativa, deparava-me com uma sucessão de situações desagradáveis. Outro exemplo. Conheço um senhor que se nutre de notícias ruins. Adora ler o obituário e inicia a manhã buscando a lista de falecimentos. É uma péssima ideia. Em seguida liga o rádio para se informar das notícias catastróficas, pois as boas costumam ter pouco impacto e ele nem se interessa. Se amos o dia inteiro garimpando desastres, acreditaremos ser a vida uma experiência trágica, carregada de perdas e dor. Faço um esforço diário para me manter afastado, olhando com renovada simpatia as circunstâncias poéticas ao meu redor.
Há alguns anos, ao iniciar as atividades de palestrante, vali-me de várias sessões de terapia para reforçar uma imagem positiva de mim mesmo, sobretudo em termos profissionais. Eu sofria da síndrome do impostor. “Vão descobrir que sou uma fraude”, pensava. E, quando o sentimento me invadia, de nada adiantava uma enxurrada de elogios. Fixava a atenção no erro, no equívoco, apesar de ele ter sido quase imperceptível. Mas a psicóloga disse uma frase essencial, provocando uma mudança significativa: “Desista de encontrar a perfeição”. Devagar fui me reconstruindo internamente até aceitar essa verdade incontestável. E agora sigo tranquilo, imerso em muito estudo, com o intuito de aperfeiçoamento constante. Ao pensar assim, fui vendo como é importante acreditar que a possibilidade de dar certo precisa estar no radar para ser convertida em sucesso. Depoimentos de pessoas bem sucedidas em suas áreas afetivas e profissionais reforçam isso. Claro, revela-se insuficiente só querer, é necessário agir com determinação e disciplina.
Hoje, saio de casa preparado para fazer as melhores entregas nas áreas às quais me dedico. Tem dado certo — metade pelo empenho e o restante por apostar na minha capacidade. Resultado, diga-se de agem, do interesse em seguir investigando filosoficamente o comportamento humano. Às vezes, a despeito desse trabalho interior renovado, a festa não será boa. Mas, como dizem os sábios estoicos: algumas coisas fogem do controle e devemos deixar de lado a pretensão de comandar tudo. Esforço-me no sentido de ser um impulsionador da alegria em um mundo tão contaminado pelo pessimismo.
Bom é a gente inventar razões para o contentamento na banalidade de uma segunda-feira qualquer. É nesta agenda — e com tal propósito — que vou fazer modestos registros de felicidade.