Não como carne faz anos. E sou apaixonada por viajar. Assim, sempre que posso, viajo. Conhecer novos lugares, costumes, gente que vive a vida de modo diferente é o que me move. E, invariavelmente, os amigos perguntam, como é viajar para uma vegetariana? a muita fome? A resposta é: nunca ei fome e nem vontade de comer. Ok, talvez porque hoje o mercado tenha se dado conta do número cada vez maior de vegetarianos e veganos e grande parte dos restaurantes esteja tentando atender as necessidade deste público. Talvez, em tempos mais remotos ser vegetariana fosse mais complicado. Hoje não mais. Mas esta crônica não é sobre ser vegetariana e viajar. É sobre turismo e a capacidade que as cidades têm de ser ou não hospitaleiras.
Toda vez que viajo penso na minha cidade e nos esforços que temos feito para que Caxias do Sul possa fazer crescer o setor do turismo. Mas sejamos sinceros, parece que não temos vocação para a coisa e não me entendam mal, isso não é falar mal da cidade que nasci e tanto amo, mas precisamos ser realistas. Muito mais do que o poder público e a iniciativa privada compreenderem que é necessário investir neste setor que cresce e lucra cada vez mais, a despeito de quem vira o nariz para o turismo e para a cultura (sugiro ver os números e a economia) falta-nos algo fundamental para o turismo daqui: capacidade de celebrar a vida. Capacidade de brindar o presente, de comemorar o agora e de saber que conhecer um lugar, sua gastronomia, sua gente é uma das coisas mais prazerosas do mundo. E que move milhões.
Somos uma cidade que se orgulha do trabalho e cresce por conta dele, mas temos muita dificuldade em ter prazer no encontro com o outro. E turismo é, em essência, o encontro com o outro, seja com um lugar ou uma pessoa. O turista é um sujeito que viaja pelo desejo de conhecer, de experimentar coisas diferentes e comemorar o momento em que está. Por isso, turismo é arte. É a arte do bom acolhimento, da percepção da necessidade do outro e da capacidade de fazer o turista sentir-se em casa. Mais, é conseguir despertar o desejo de querer voltar porque gostou de estar aqui. Gostou da comida, das pessoas, do modo como foi acolhido, das ruas, do hotel, das praças, dos museus, do modo como as pessoas cuidam da cidade, dos sorrisos, do bom atendimento na hora da compra. Nós somos duros demais, confessemos. Nossa vocação é para o trabalho asséptico, que não sabe brindar, que almoça cedo, dorme cedo, acorda cedo, que olha com preconceito para quem decide almoçar às três da tarde. Talvez por isso nunca encontremos um restaurante aberto depois das 14h.
Turismo é hospitalidade, e ser hospitaleiro é conseguir fazer o outro sentir-se em casa. Conto isso, porque num determinado jantar em que se servia carne (e eu perdida fui parar ali), o garçom me ofereceu algo e eu recusei. Então ele questionou se eu era vegetariana, confirmei. Ele sorriu, deu às costas, foi até a cozinha e depois disso, tive uma das melhores refeições que já fiz e naquela noite nasceu esta crônica.