Em vez do debate de ideias, preponderou a tentativa de desqualificar e inferiorizar a ministra por ser mulher

O show de falta de compostura e de violência política de gênero foi protagonizado pelos senadores Omar Aziz (PSD-AM), Plínio Valério (PSDB-AM) e Marcos Rogério (PL-RO). Este, presidente da comissão, coagiu várias vezes a ministra, cortando o microfone enquanto ela falava. Chegou a soltar um “Se ponha em seu lugar”, contrariado com a insubmissão de Marina à humilhação que queriam lhe impor. Valério, que já referiu pensamento de enforcá-la, voltou à carga. Disse não respeitá-la como ministra e se recusou a retirar a impropriedade direcionada a alguém que estava ali institucionalmente como chefe de pasta.

Não é por ser mulher que Marina Silva deve ser poupada de críticas. É legítimo, também, discordar dela, desaprovar sua atuação no governo e reclamar da demora nos licenciamentos ambientais, ainda que a ministra seja uma figura internacionalmente reconhecida por sua trajetória e posições. Cobrar de forma firme, no entanto, difere bastante de atingir e vilipendiar alguém pessoalmente pela condição de ser mulher. 

Maior parte da população, as mulheres permanecem bastante sub-representadas nos espaços de poder. A política é exemplo. A composição dos parlamentos, em especial, deveria espelhar melhor a sociedade brasileira. Na Câmara dos Deputados, a bancada feminina é menos de um quinto da atual legislatura. Mas até as que alcançam posições de destaque não raro são diminuídas em sua capacidade, mesmo em episódios confundidos com gafes, como falas de cunho preconceituoso do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, entre outros despropósitos, afirmou em março ter escolhido a deputada federal Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela articulação com o Congresso, por ser “mulher bonita”.

Os acontecimentos lamentáveis da última terça-feira também refletem o machismo arraigado no Brasil. Combater essa cultura não é necessário apenas para que os debates, nas mais altas instâncias da República, primem pela civilidade e o respeito. Essa mesma visão distorcida masculina de que a mulher deve ser submissa, afinal, está na origem da violência doméstica e dos feminicídios. 









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