
A Wine South America chega à 5ª edição consolidando a relevância no setor vitivinícola. Realizada no Fundaparque, em Bento Gonçalves, a feira reúne produtores, compradores e especialistas em uma programação intensa de negócios, troca de conhecimentos e degustações. A expectativa da organização é superar a marca de R$ 100 milhões em negócios gerados.
Logo no primeiro dia, visitantes tiveram a oportunidade de conhecer rótulos variados da Serra Gaúcha, de outras regiões do Brasil e de mais de 12 países. Entre as novidades, a presença inédita de vinícolas do Distrito Federal chamou a atenção.
— Esta é uma edição histórica. Temos recorde de participação, a estreia de produtores de Brasília e uma presença internacional significativa. A Wine South America se afirma como uma plataforma estratégica de negócios do vinho entre a América Latina e o mundo — destacou o presidente do evento, Marcos Milanese, durante a abertura oficial.
A reportagem percorreu os corredores da feira e reuniu alguns destaques que marcaram o início desta edição. Confira a seguir:
Estreia dos vinhos do Distrito Federal
O Distrito Federal estreou nesta edição da Wine South America, representado em um estande coletivo que apresenta rótulos de vinícolas locais.
A diferença da produção do DF é que parte das vinícolas tem uma produção com vinhedos cultivados sob o sistema de dupla poda – onde é preciso inverter o ciclo da videira, fazendo duas podas no ano, e transferindo a colheita que naturalmente seria no verão para o inverno.

O estande é organizado pela Secretaria de Estado de Turismo. O assessor de comunicação do órgão, Bruno Tempesta, explica que a participação do DF tem como objetivo ampliar os mercados consumidores dos vinhos produzidos por lá.
— É um desafio enorme, porque nós sabemos da tradição dos vinhedos no Rio Grande do Sul e outras partes do Brasil. Mas Brasília está preparada, porque vem se modernizando. Brasília tem vinhedos de excelente qualidade. A gente atua em duas frentes: para captar turistas de experiência e estimular o setor produtivo, gerando emprego, renda e retorno para a sociedade — afirma Tempesta.
O produtor Ronaldo Triacca, representante da Vinícola Triacca, explica que o cultivo da uva em dupla poda gera frutos de excelente qualidade, que se traduzem em vinhos elegantes.
— Os nossos vinhedos estão a mil metros de altitude. Com invernos amenos, muita luz e sem chuva, a gente consegue vinhos elegantes com bastante complexidade. São vinhos com muito frescor, com boa acidez, muito frutado, por causa desse excesso de luz que nós temos, e também com noites frias, que traz um frescor para o vinho — enfatiza.
Estreia do Velho Continente
Quem também estreou nesta edição da Wine South America foram as vinícolas portuguesas. O estande dos Vinhos de Portugal, organizado e promovido pela ViniPortugal, apresenta aos visitantes uma seleção de vinhos de produtores de diversas regiões de Portugal. Ao todo, são 11 expositores das regiões de Douro, Alentejo, Vinho Verde, Dão, Bairrada e Lisboa.
Para Daniela Costa, gestora de área da Vinhos de Portugal, o principal objetivo é ampliar o mercado consumidor brasileiro, que já é um dos principais dos vinhos portugueses.
— Há uma necessidade de diversificar, dentro do Brasil, os mercados. Desta vez trouxemos 11 produtores e a ideia é, realmente, diversificar. São produtores de várias regiões para poderem estender seus portfólios no Brasil. Com o benefício de podermos ter rodadas de negócios com compradores, supermercados, distribuidores, que parece ser de mais valia nesta feira — destaca.
Da região dos Vinhos Verdes, vindo de Braga, ao norte da cidade do Porto, o produtor Tiago Ferreira, da Quinta D’Amares, traz à Serra seus vinhos de característica leve, que ele define como "muito ajustado à gastronomia e às temperaturas do RS".

— Nós queremos perceber qual é a aceitação do público mais ao Sul. Normalmente participamos da ProWine (feira em São Paulo). Eu falo que ele é um vinho mais leve, fresco. Por estarem mais próximos do oceano, traz um frescor adicional a estes vinhos — afirma.
Na Quinta D'Amares, Ferreira explica que são utilizadas diferentes técnicas na vinificação como diferencial. Entre os destaques, o espumante feito de modo "natural".
— Ele é engarrafado ainda no decorrer da fermentação. Tem que ser assim meio turvo, porque precisa que as leveduras entrem junto com o vinho para terminar a fermentação dentro. Tudo de forma natural — destaca.
Inteligência artificial

Unindo matemática, enologia e inteligência artificial (IA) à produção de vinhos, a Casa Tertúlia, vinícola do Alto Uruguai gaúcho, utiliza um sistema de algoritmos de IA capaz de analisar, a partir da estrutura físico-química dos lotes e de dados de avaliações internacionais, qual o melhor corte possível para a composição de um vinho.
O engenheiro mecânico e sócio da vinícola Gabriel Hilgert explica que a ideia surgiu quando ele trabalhava em um laboratório voltado a pesquisas sobre Alzheimer.
— Eu pensei: "Por que não trazer isso para o vinho?". E aí surge a primeira etapa, que é a invenção de um sommelier virtual. Ele consegue detectar padrões da composição molecular do vinho, que leva a ter uma determinada nota ou qualidade. Depois criamos outro algoritmo, que simula e tenta diversas misturas, até descobrir a que vai elevar ao máximo a qualidade do vinho. No final, ele é um corte. Então, esse corte é composto da melhor receita que vai trazer a melhor nota pro vinho — relembra.
Depois, a criação ou pela avaliação da enóloga da vinícola, Viviane Massi Hilgert, que adaptou a proposta ao paladar do consumidor.
— O primeiro gole é um sabor mais aconchegante e conforme ele esquenta, ele vai impactando mais, ficando mais permanente. Ele é um vinho extremamente interessante, muito complexo, um corpo muito bom — detalha Gabriel.
Região de Friuli-Venezia Giulia pela primeira vez
Vizinhos da região do Vêneto, de onde muitos imigrantes partiram rumo ao RS há 150 anos, os produtores de Friuli-Venezia Giulia participam pela primeira vez da Wine South America. Num estande coletivo, quatro vinícolas apresentam seus rótulos ao público brasileiro.
Uma das vinícolas presentes é a Terre Petrussa, que produz vinhos orgânicos, ou como são chamados na Itália, biológicos. O produtor Giorgio Petrussa já celebra que logo no primeiro dia de Wine South America já conseguiu fechar negócios e projeta uma experiência positiva na feira.

Na Serra, foram recepcionados pelo grupo "Friolanos pelo mundo", que reúne descendentes de imigrantes da região.
— Nós chegamos no domingo e encontramos os Friolanos do mundo. Esses descendentes do Friuli fizeram uma recepção muito calorosa e convidaram para eventos, mostras. E já com essa recepção, já estou muito feliz. Nas poucas horas de feira, já percebi uma boa visitação — destaca Petrussa.
Para o produtor, cada vinho representa o trabalho de um produtor e o território ao qual estão inseridos:
— Nós temos a oportunidade de ter este território com uma característica do solo, que obtemos vinhos brancos maravilhosos — explica.
O que chama atenção de quem a são os rótulos criativos dos vinhos, que representam as expressões de Petrussa de acordo com o clima: neve, chuva, tempestade e sol.
Serviço
- O quê: 5ª Wine South America
- Quando: Até esta quinta-feira, das 12h às 19h, com o até as 18h
- Onde: Fundaparque Parque de Eventos (Alameda Fenavinho, 481, Bento Gonçalves)
- Mais informações: winesa.com.br