
Os conselheiros do Juventude se reúnem na noite desta terça-feira (6) com a responsabilidade de analisar um tema fundamental para o futuro da entidade. Eles vão conhecer o conceito inicial de constituição de uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do clube, e devem autorizar ou não a continuidade das negociações com a Five Eleven Capital, grupo interessado em investir no empreendimento. A reunião tem primeira chamada às 18h30min e segunda às 19h.
O tema tem mobilizado e gerado polêmica entre os torcedores jaconeros, em virtude da complexidade e das inúmeras informações surgidas em redes sociais. A tratativa tem sido conduzida pelo Conselho de istração do Juventude, formado por dez membros, e no encontro desta terça todos os detalhes serão oficialmente revelados. O conselheiro que tem exercido a função de porta-voz sobre o tema é o ex-presidente Walter Dal Zotto Junior, que inclusive se declara chateado com vazamentos de informações, que no entender dele, podem prejudicar o debate de uma alternativa para o futuro do clube.
O debate sobe a constituição de uma SAF do Juventude começou ainda em 2021, quando a Lei 14.193, que regulamenta esse tipo de empreendimento, foi aprovada no país. Desde então, segundo Dal Zotto, o Conselho de istração se debruçou sobre o tema e estabeleceu diretrizes para nortear futuras discussões. A primeira deliberação é que, embora a lei permita, não será aberta nenhuma negociação que envolva a venda do clube, em virtude das raízes comunitárias da instituição. Com isso foi formatado um modelo que prevê o arrendamento ou terceirização do futebol e da estrutura a um investidor durante um período, com o objetivo de captar recursos, fortalecer a parte esportiva e de formação de atletas. A negociação, no entanto, teria por princípio não envolver patrimônio ou venda definitiva de marca. O Esporte Clube Juventude seguiria existindo de forma independente, e inclusive seria sócio da SAF.
Este conceito foi apresentado à Five Eleven no ano ado, quando ela procurou o Ju com a intenção de fazer a compra total do clube. Informada de que essa ideia inicial não seria possível, houve interesse em continuar os contatos dentro das bases estabelecidas pelo Juventude, e agora a formatação inicial da negociação vai ser apresentada nesta terça. Caberá aos conselheiros, segundo Dal Zotto, autorizar o aprofundamento das tratativas, mas sem uma decisão definitiva, pois as conversas ainda são iniciais.
— O Conselho vai nos dar uma sinalização sobre seguir ou não adiante na conversa. Não há proposta fechada, e queremos que os conselheiros entendam o conceito. Eles serão soberanos para nos apontar o caminho, e se derem o aval, haverá um aprofundamento da negociação, inclusive com a contratação de assessorias especializadas. Ao final disso tudo, se houver um consenso entre clube e investidor, tudo será novamente votado e aprovado pelo Conselho, com transparência — explica o ex-presidente.
Em linhas gerais, seria criado um novo CNPJ, no qual o Juventude entraria com ativos do futebol, como direitos federativos de atletas, rendas de direitos de TV, uso de marca e do patrimônio durante o período do acordo, ficando como sócio minoritário. A Five Eleven entraria com um aporte inicial que seria usado para indenização do clube e investimento em melhorias patrimoniais, além de se responsabilizar por bancar o futebol e a manutenção do clube com um orçamento anual, ainda não estabelecido, que possibilite ao Juventude subir de patamar esportivo e reforçar a revelação de atletas, principal ponto de retorno para o investidor.
Quanto a valores, Dal Zotto informa que há cláusulas de negociação que impediram a divulgação oficial até agora, mas rebate informações de que se trataria de um investimento em torno de R$ 150 milhões. Segundo ele, o valor debatido como aporte é mais o que o dobro disso, e seria destinado à melhoria da infraestrutura e para indenização do clube pelo negócio, o que possibilitaria ao Ju ficar com dinheiro em caixa para um eventual distrato do acordo:
— Esse valor nós chamamos de cashout, que possibilitaria à associação ter dinheiro para reassumir ou comprar a parte do investidor por um valor pré-determinado, caso as cláusulas de governança não sejam cumpridas. É preciso pensar em uma porta de saída, e isso estará previsto em contrato, com recurso garantido por esse aporte inicial. Também está previsto que a SAF pague ao clube royalties anuais de 10% sobre a receita bruta, exceto sobre venda de jogadores, onde também haverá um percentual, embora menor.
Uma das questões que tem gerado mais polêmica entre torcedores é uma solicitação da Five Eleven de ter a opção de compra do CT do clube após um período de quatro anos. Dal Zotto reconhece que esta é uma questão que não estava no escopo inicial do projeto do clube, mas justamente por isso será colocada aos conselheiros, para que seja avaliada e validada pelo Conselho Deliberativo, pois está fora dos planos iniciais.
Quanto à pertinência da negociação, o ex-presidente entende que o Juventude está em uma encruzilhada, pois embora o clube atualmente viva um bom momento, há o entendimento de que o modelo atual de gestão e finanças tem limitações. Por isso, defende a necessidade de pensar em alternativas para o futuro, inclusive para manter os investimentos e o equilíbrio econômico.
— O clube está investindo no CT o dinheiro que recebeu da Liga, com recursos que também vem da presença na Série A. Se o Juventude cair, não vai sobrar dinheiro para investir, pois o clube foi deficitário todas as vezes em que não disputou a primeira divisão. Os principais clubes estão migrando para o modelo de SAF, e já são quase 350 ao redor do mundo. É uma tendência e precisamos analisar — ressalta Dal Zotto.