PEDRO FREITAS VALÉRIO

Diretor-executivo do Instituto Caldeira

Criado há três meses, o modelo de associados não-residentes chegará a 2022 com 150 participantes. Significa que a área construída de 22 mil metros quadrados é apenas a ponta de um iceberg formado por uma base de empreendedores que respiram inovação.  

— É muito difícil, para não dizer impossível, hoje em dia, fazer inovação 100% sozinho. Deixou de ser um capricho e se tornou uma questão de sobrevivência dentro deste novo contexto tecnológico. As empresas, independentemente do porte, entenderam a importância de atuar de forma colaborativa em busca de soluções — diz Valério.  

A explicação para tamanha procura a pelo aumento da dificuldade de identificar soluções de competitividade para negócios já estabelecidos, com o olhar voltado apenas da “porta para dentro”.    

Mudança do produto ao chão de fábrica

Alex Battistel / Randon / Divulgação
Unidade na Randon atua no desenvolvimento da automação industrial

Maior fabricante de reboques e semirreboques da América Latina, a Randon atua desde 1949, em Caxias do Sul. Depois de um primeiro contato com o mundo da inovação aberta no Instituto Hélice, a empresa ampliou as discussões sobre o impacto das transformações digitais na cadeia e na indústria automotiva.   

Era chegado o momento de partir para a ação. E, entre 2019 e 2020, uma série de iniciativas deram início ao que hoje é um complexo sistema pensado para preparar a companhia para o futuro do mercado.   

— Não é algo pontual, mas sim uma transformação digital que cobre a empresa inteira — sintetiza o diretor de inovação da Randon, César Ferreira.    

Não é algo pontual, mas sim uma transformação digital que cobre a empresa inteira.

CÉSAR FERREIRA

Diretor de inovação da Randon

Lançada no ano ado, a Randon Venture é o braço de investimento em startup do grupo, com foco em novas oportunidades.  

Em um ano, entre as investidas estão TruggHub, Abbiamo, Grupo Delta, TruckHelp e Soon (conhecida anteriormente como Reboque.me).   

Além disso, foi selada uma parceria com a 4all, que concretizou a criação de uma nova companhia para oferecer serviços financeiros digitais, por meio da R4 Digital. Ferreira explica que são diferentes posições de interesse, nos nichos de logística, automotor, bancos, consórcios e fintechs.    

A rápida transformação não para por aí. Para aprimorar os processos fabris, também em 2020, a empresa criou uma unidade para atuar no e e desenvolvimento de automação industrial. Trata-se da Randon Tech Solutions (RTS) Industry. A meta é construir soluções, máquinas especiais e smart manufacturing (manufatura integrada por computador). 

Sinergia 

Com investimento de R$ 20 milhões, a divisão que vai ampliar a sinergia entre todas as unidades do grupo no desenvolvimento de processos e sistemas inteligentes de produtividade. Em fevereiro, adquiriu por R$ 14 milhões a Auttom, de Caxias do Sul, que atua no segmento de soluções tecnológicas em automação e robótica industrial.   

Para a realizar as ações previstas no planejamento da companhia, a RTS Industry conta com uma central localizada próxima à sede, em Caxias do Sul, para a incorporação de equipamentos e a execução das células de produção.   

Uma das primeiras medidas nesse sentido, foi a compra de máquinas de inovação em processos industriais, operadas por técnicos de automação, como Matheus Mallmann Zucolotto. Além disso, a companhia adquiriu 254 robôs e equipamentos para linha de montagem completa de caminhões, suspensão e um sistema de medição de precisão em 3D.

Dos ônibus para soluções sobre trilhos 

Marcopolo / Divulgação
Marcopolo Rail ganha pernas próprias e fornecerá tecnologia no transporte de veículo em Guarulhos

Ao lado da Randon e outras gigantes da serra gaúcha, a Marcopolo é uma das incentivadoras do Instituto Hélice, em Caxias do Sul. O analista de Inovação João Carlos Paviani explica que essa foi uma grande “virada de chave” na região e também na empresa, que antes buscava a chamada inovação para sustentação, focada apenas no produto final, ou seja, ônibus.    

Fundado há 72 anos, o grupo é um dos maiores fabricantes de carrocerias do mundo. Em 2019, nasceram duas iniciativas de negócios e inovação, que mudariam a forma de olhar para o mercado. Nesse contexto, a Marco Zero é o braço de investimentos, que prospecta novas tecnologias em parcerias fora do ambiente da empresa. Neste segmento, já são duas aquisições, cujos nomes e valores permanecem guardados a sete chaves.    

Outra ação é a Next, venture build, também chamada de “fábrica de startups”. O gestor de investimentos da Marco Zero, Alexandre Cruz, comenta que uma das propostas aceleradas com startups pela Next foi a Marcopolo Rail. Agora, o projeto ganhou pernas, gestão e receitas próprias.   

Trata-se da nova divisão de modais alternativos que, em dezembro de 2020, lançou o seu primeiro veículo leve sobre trilhos (VLT) para operar em uma rota turística. Até outubro, estão previstos os testes noturnos nos trilhos da Maria Fumaça, na Rota dos Vinhedos, em Bento Gonçalves.    

Aeroporto 

O VLT também conta com versões para atender aos sistemas de transporte urbanos e intercidades, e a Marcopolo fornecerá a tecnologia para o consórcio AeroGRU, responsável pelo projeto de transporte de ageiros da linha 13-Jade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (TM) aos terminais 1, 2 e 3 de ageiros do aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo. O termo aditivo para o início das obras no trajeto de 2,6 quilômetros, com quatro paradas previstas, foi assinado em 8 de setembro.  

A Marcopolo sempre buscou ser inovadora. Agora, o que temos é mais ferramentas para isso.

ALEXANDRE CRUZ

Gestor de investimentos da Marco Zero

— A Marcopolo sempre buscou ser inovadora. Agora, o que temos é mais ferramentas para isso. Com o mundo acelerando, estamos competindo com empresas como Enel e Apple, que também tem planos de veículos autônomos — comenta Cruz.  

De acordo com ele, uma série de movimentos ligados à inovação aberta fizeram com que a empresa aproveitasse a conexão com os ecossistemas para transformar essa interação em ferramentas que se traduzem no olhar para outros caminhos e novos negócios.  

Ele reforça que isso não se restringe ao país ou ao polo metalmecânico. Atualmente, existem três testes de conceito realizados em Israel. Os desafios: inteligência artificial e smart materials (manipulados para responder de forma controlável e reversível). 

Procura por um portfólio para o futuro do agro  

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Logemann pratica olhar de longo prazo no Caldeira

Uma das recém instaladas no Instituto Caldeira é a SLC Agrícola. Representante do setor mais tradicional da economia gaúcha, o agronegócio, a empresa fundada em 1977 é produtora de soja, milho e algodão. Também trabalha com pastagem e gado, na integração lavoura-pecuária.   

Com matriz em Porto Alegre, possui 22 unidades de produção em sete Estados brasileiros. Na safra 2020/2021, totalizou cerca de 470 mil hectares plantados.  

Head de Inovação da companhia, Frederico Logemann conta que a predisposição da empresa aos processos de inovação aberta chega com o programa Agro Exponencial, criado para analisar soluções de startups, hoje utilizadas em diversas áreas da agricultura digital.    

A opção pelo Caldeira, no ano ado, gerou um novo programa de intraempreendedorismo, batizado de Ideias e Resultados. Para isso, foi criado um braço de investimentos, o SLC Ventures. O objetivo, comenta Logemann, é praticar um olhar de longo prazo:    

— A meta é construir um portfólio de investimentos que represente o futuro do agro e seja capaz de renovar o negócio.  

O primeiro aporte foi na Aegro, uma startup gaúcha fundada em 2014, que partiu da base de dados do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), para gerar um software que permite melhorar técnicas de manejo. A ferramenta oferece uma visão detalhada sobre a trajetória do dinheiro ao longo da safra, desde a compra de sementes até a venda da produção. O segundo, ainda não revelado, está bastante próximo de sair do papel. 

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