
A artista e modelo Cassie Ventura enfrentou nesta quinta-feira (15) a defesa do ex-namorado Sean "Diddy" Combs no terceiro dia de seu testemunho no julgamento que acusa o rapper de tráfico sexual, extorsão e outros crimes.
Depois de dois dias de relatos sobre estupro, agressões físicas e chantagens, Cassie foi confrontada com mensagens antigas em que declarava amor a Diddy — e respondeu que ainda assim vivia em medo constante, segundo informações do TMZ e da BBC.
Os depoimentos anteriores, iniciados na terça-feira (13), revelaram um histórico de mais de uma década de abusos. Segundo Cassie, o relacionamento era sustentado por violência física, dependência emocional, coerção sexual e controle profissional.
No tribunal, a defesa tenta retratar o envolvimento como consensual. A promotoria, por sua vez, alega que Combs chefiava um sistema de exploração sexual, com apoio de sua equipe.
Defesa sugeriu "consentimento"
No quarto dia de julgamento, Cassie foi interrogada pela advogada de defesa Anna Estevao, que apresentou à corte uma série de mensagens e e-mails trocados entre ela e Diddy, incluindo frases como "te amo" e "voaria para qualquer lugar por você".
Cassie confirmou os conteúdos e explicou que havia momentos em que realmente acreditava estar apaixonada, mas que isso não invalida os abusos sofridos.
Os advogados de Diddy também discutiram outros relacionamentos de Cassie — durante idas e vindas do namoro com Diddy, a artista se envolveu com o cantor Kid Cudi e o ator Michael B. Jordan. Porém, ela afirmou que os casos não teriam dado certo por sentir medo de como o antigo namorado reagiria.
Segundo a defesa, as ações de Diddy não seriam motivadas para forçar Cassie a realizar atos sexuais, mas sim por ciúmes devido às infidelidades.
"Freak offs"
A defesa sugeriu que Cassie aceitava participar dos chamados "freak offs" — encontros sexuais comandados por Combs, com presença de acompanhantes — para agradá-lo.
Ela itiu que tentou fazê-lo feliz, mas ressaltou que "há muito mais por trás disso". A promotoria contestou a linha de argumentação, afirmando que consentimento sob manipulação e medo não seria válido.
Também foram mostradas mensagens onde Diddy dando opção a Cassie de não participar dos encontros. "Se você não gosta disso, sem problemas", dizia um dos textos.
Em resposta, a cantora disse que as conversas não seriam tão relevantes, pois estavam sendo "retiradas de contexto".
Cassie diz que foi estuprada
Na quarta-feira (14), Cassie descreveu um encontro com Combs em 2018, quando imaginava que teriam uma conversa final após o término. O que ocorreu, segundo ela, foi um estupro em seu próprio apartamento.
— Eu só lembro de chorar e dizer não. Foi muito rápido. Eu não sei se ele percebeu que eu estava chorando — contou.
Ela revelou também que enviou ao rapper uma espécie de livro terapêutico escrito com ajuda da mãe, relatando os abusos.
O conteúdo teria sido ignorado pela equipe de Diddy. A cantora afirmou que precisou ar por reabilitação, tratamento psicológico e lidou com pensamentos suicidas.
— Não queria mais estar viva — disse.
Cassie também mencionou chantagens com vídeos íntimos. Disse que temia que Combs publicasse imagens dela com acompanhantes, feitas durante os "freak offs". O rapper teria ameaçado divulgar os vídeos sempre que ela tentava se afastar.
— Naquele momento, eu faria o que quer que fosse para não deixá-lo irritado e para que não me ameaçasse — contou Cassie.
Vídeo de agressão em hotel e rotina de abusos
Na terça-feira (13), o tribunal analisou imagens de 2016 que mostram Diddy arrastando Cassie pelo corredor de um hotel em Los Angeles. A artista relatou que, no dia da agressão, havia tentado deixar um "freak off" antes do fim e foi atacada por isso.
Segundo ela, foi chutada, jogada ao chão e teve seus pertences tomados. Mesmo ferida, participou da estreia de seu primeiro filme naquela noite, escondendo hematomas com maquiagem.
Ela detalhou ainda como os "freak offs" eram organizados: com uso de drogas como ketamina e opiáceos, gravações sem consentimento e práticas sexuais humilhantes. Disse que sofria de infecções e dores constantes após os encontros e que tomava medicamentos intravenosos para se recuperar.
O julgamento
O julgamento do rapper Diddy, acusado por mais de 120 pessoas por crimes como assédio sexual, estupro e tráfico sexual, começou no dia 5 de maio.
Em janeiro, outras duas acusações de vítimas que não tiveram os nomes divulgados foram incluídas no montante acumulado no último ano.
Diddy se declara inocente. O advogado do artista, Marc Agnifilo, defendeu seu cliente e criticou a abordagem da promotoria. Ele descreveu a teoria da acusação como "falha".
Preso desde setembro em uma penitenciária de Nova York, nos Estados Unidos, o rapper, também conhecido como Puff Daddy e P. Diddy enfrenta acusações de agressão, extorsão, coerção, estupro, tráfico sexual e transporte para prostituição.
Se condenado, Diddy pode pegar prisão perpétua.
Relembre o início das acusações
Conforme a Promotoria de Nova York, durante décadas, Diddy "abusou, ameaçou e coagiu mulheres e outras pessoas ao seu redor para satisfazer seus desejos sexuais, proteger sua reputação e ocultar suas ações".
Segundo o documento da acusação, ele usava seu império musical e sua influência para atingir os objetivos. O promotor Damian Williams disse à imprensa estrangeira que Diddy construiu um esquema com base em violência para obrigar mulheres a "longas relações sexuais com garotos de programa".
O esquema utilizava de drogas como ecstasy, GHB (chamada de "droga do estupro") e cetamina para controlar as vítimas. Em muitos momentos, os abusos eram filmados e, supostamente, incluíam até mesmo imagens de agressões físicas.
O advogado Marc Agnifilo reitera a inocência do artista, classificando as condições de sua prisão como "desumanas".
— Esteja onde estiver, ele tem a mesma determinação. Acredita ser inocente — declarou em frente ao tribunal federal de Manhattan.
Outros famosos, como Justin Bieber, Ashton Kutcher, Jay-Z, Jennifer Lopez e Mariah Carey foram associados às polêmicas de P. Diddy. Nenhum envolvimento direto de terceiros foi confirmado até o momento.
Porém, Tony Buzbee, advogado que representa as mais de 120 vítimas, afirmou que celebridades também podem ser processadas se tiverem ajudado o rapper a encobrir os crimes.