Dez anos depois, este filme ainda é um sonho
A trama tem início com um assalto a banco, orquestrado pelo Coringa, que vai deixar fulos da vida os mafiosos de Gotham City – filmada sobretudo em Chicago, dentro da leitura realista proposta pelo diretor britânico Christopher Nolan, avesso a truques digitais. Paralelamente, Batman, o ainda tenente Gordon (Gary Oldman) e o incorruptível promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart) se unem para limar da cidade os criminosos.
O enredo e o tom sóbrio, quase noir, bebem bastante de três dos melhores gibis do super-herói da DC Comics: Batman: Ano Um, de Frank Miller e David Mazzhucchelli, O Longo Dia das Bruxas, de Jeph Loeb e Tim Sale, e A Piada Mortal, tour de force do Coringa com roteiro de Alan Moore e arte de Brian Bolland.
Nolan não chega a explorar a origem do vilão, como faz A Piada Mortal, mas, no filme, o personagem alude ao dos quadrinhos quando reinventa aqui e ali o seu ado – uma tática declarada pelo Coringa na HQ. É como se zombasse daqueles que buscam uma explicação lógica para a maldade.
Cinema e quadrinhos se encontram sobretudo na abordagem da dualidade de Batman (um herói com impulsos negativos) e na tese do Coringa de que basta um dia ruim para transformar o mais íntegro dos cidadãos em um lunático, basta o caos para nivelar bons e maus.
— Insanidade é como gravidade — afirma o Coringa de Heath Ledger. — Basta um empurrãozinho.
Não é por acaso que O Cavaleiro das Trevas acompanha o surgimento de outro vilão essencial: o Duas-Caras. Ele é o símbolo tanto do lado escuro de Batman quanto da proposição do Coringa (que, a certa altura, diz para o herói: "Você me completa!").
Não é por acaso que, na cena em que o Homem-Morcego suspende o psicopata de ponta-cabeça, Nolan movimente a câmera de modo a igualar a posição dos dois interlocutores. Um não é mais o inverso do outro, mas seu espelho.