O jornalista Carlos Redel colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço.
O brasileiro curioso corre vários riscos no dia a dia. Na área gastronômica, principalmente. Por exemplo: surgem, nas gôndolas dos supermercados, produtos cada vez mais duvidosos — de macarrão instantâneo sabor chocolate a "sushovo", que é um ovo de Páscoa feito de sushi.
Tentando salvar aqueles que poderiam dizer "quer saber, vou levar para casa e provar" que o criador de conteúdo Braian Rizzo, 35 anos, começou a gravar os seus vídeos curtos — com uma média de um minuto cada. Nas produções, ele degusta as comidas mais duvidosas disponíveis para comprar — algumas delas, caso não encontre, ele mesmo produz em casa.
Gaúcho de Rio Grande, Rizzo se mudou para São Paulo há 11 anos. Na internet desde 2008, escrevendo para blogs — como o Não Salvo — e apresentando podcasts — como o Eu Tava Lá —, decidiu, em 2022, que criaria um conteúdo que gostaria que existisse, ao mesmo tempo que aproveitaria uma habilidade peculiar:
— Eu nunca ei mal com nenhuma comida. Não só em vídeo, mas na minha vida. Acho que eu sou imune a esse tipo de coisa (risos).
Por morar muito perto do bairro Liberdade, na capital paulista, o criador de conteúdo tem uma grande facilidade de encontrar os alimentos mais inusitados — massas coreanas, balinhas de alcaçuz dinamarquesas e refrigerantes japoneses. Mas, além das guloseimas internacionais, ele também se esbalda na criativa culinária local.
Entre vídeos recentes, por exemplo, Rizzo provou versões do cuscuz paulista, um "coxitone" — que é um panetone feito de coxinha — e maniçoba, prato que precisa ser cozido por uma semana para não envenenar o consumidor. Uma infinidade de guaranás — inclusive, a Fruki de bergamota — já ou pelo canal.
Formato
Além dos pratos curiosos, o youtuber ainda tem como diferencial o formato de seus vídeos: ele não fala enquanto come, mantendo uma narração em off. São personas diferentes na mesma produção. Enquanto uma está meio ressabiado, o outro está empolgado. Também tem a legenda que, volta e meia, entrega alguma opinião que não foi dita pelo narrador, sendo, assim, uma terceira voz.
— Esse formato que eu criei é uma sátira dos formatos de verdade, da galera que entende de comida. Porque eu não entendo nada. Eu falo que eu sou especialista na minha opinião. Então, o meu vídeo vai ser sobre o que eu achei — explica.
No total, Rizzo entrega três vídeos por semana, sendo 15 por mês. E, em breve, a ideia dele é expandir o seu conteúdo:
— Estou 100% focado nisso. Agora, quero fazer vídeos longos, com mais experiências gastronômicas pelo mundo. No ano ado, fui para a Inglaterra. Fiquei um tempo lá e gravei muitas comidas regionais legais. E me surpreendi com os números. As pessoas têm interesse pela gastronomia de outros países. Então, quero viajar um pouco mais e tentar trazer vídeos de formatos um pouco diferentes, mas dentro do universo da gastronomia. Estou gostando de fazer e tem dado muito certo.
Monetização e expansão
Braian Rizzo se mantém atuando com o que gosta graças à monetização promovida pelas plataformas de vídeo, bem como publicidades de grandes marcas. Já anunciaram com ele empresas de roupas, de pagamento digital, de crescimento de cabelo e, claro, alimentícias.
— Me orgulho muito que os meus vídeos têm quase sempre mais de 90% de retenção, mesmo no caso dos que dão 5 milhões de visualizações. E isso é muito raro hoje em dia, porque as pessoas estão na ânsia de ar para o próximo o tempo todo — diz Rizzo.
Em breve, o criador de conteúdo espera colocar mais vídeos em seu canal explorando a culinária gaúcha, a qual ele ressalta ser "incrível". Em terras paulistanas, até tentou encontrar um pedacinho de seu Estado, mas não deu certo:
— Já fiz vídeo do xis coração de São Paulo. Uma afronta à nossa cultura. Falo que me sinto como os japoneses provavelmente se sentem quando vêm um sushi brasileiro, porque o xis gaúcho em São Paulo é sempre muito caro e minúsculo. É feito em um pão de hambúrguer, com corações cortados. É uma coisa chocante e, como gaúcho, fico muito revoltado. Acho que tenho que ir para o Rio Grande do Sul para provar algumas coisas boas e mostrar para o resto da galera o que a gente come de verdade. É muito complicada a vida do gaúcho aqui (risos).