O jornalista Carlos Redel colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço.
Maninho já sofreu com várias enchentes em Alvorada, no bairro Americana, onde ele mora. Precisou até construir uma casa de palafita. O lar de sua mãe, porém, não tem este recurso. Em toda a enchente, ele precisa a resgatar de canoa e levar ela de canoa para um lugar seguro.
Mateus precisou ser corajoso, porque tinha como missão salvar pessoas. Resgatou, de barco ou moto aquática, centenas de vida, de manhã, tarde e noite. Seu Irineu, de Cruzeiro do Sul, teve a sua moradia destruída pela enchente. E, pela idade avançada, acredita não ter como construir uma vida em outro lugar. Queria se reerguer em meio aos destroços, mesmo. Só que, agora, temendo o Rio Jacuí.
O olhar sensível do jornalista e artista Pablito Aguiar repousou, no último ano, sobre a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. Ele, que é especialista em contar histórias de maneira visual sobre aqueles que pouco são vistos, é o autor de Água Até Aqui (Editora Arquipélago, 136 páginas), que será lançado neste sábado (10).
Aberto ao público, o evento ocorre a partir das 16h, na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), na sala Sérgio Napp 1. Na ocasião, haverá bate-papo com o quadrinista e com alguns dos entrevistados presentes em sua obra, além de uma sessão de autógrafos coletiva.
— Eu vejo o Rio Grande do Sul com marcas. Com marcas no psicológico das pessoas que se sentem angustiadas agora no mês de maio, que se sentem angustiadas com uma chuva um pouco mais forte. Ainda é muito presente essa dor que a gente viveu. E também tem as marcas nas paredes, que ainda podemos ver, lembrando de como foi grande tudo isso — conta Pablito.
O autor, na ocasião da enchente, em maio do ano ado, também estava ando por uma situação traumática: fora de casa, um refugiado climático. Mesmo assim, seguiu com seu trabalho de reunir os relatos de quem estava em uma situação ainda pior. Os quadrinhos foram publicados originalmente na plataforma Sumaúma – Jornalismo do Centro do Mundo, criada por Eliane Brum. No livro, a série de 14 histórias ganha uma versão ampliada.
— Eu via essas histórias dolorosas, difíceis, mexiam muito comigo, era um pesadelo compartilhado que todos nós estávamos vivendo. Só que eu entendi que, durante esse processo, era importante continuar desenhando e fazendo o meu trabalho jornalístico para poder criar essa memória, para que não esqueçamos jamais do que aconteceu e para que não se repita — completa o autor.
Água Até Aqui pode ser adquirido, em valor promocional de pré-venda, no site da Editora Arquipélago.